MANGO: O que o motivou a escrever um livro sobre a história do Rock?
MANGO: O que você procurou explorar no seu livro?
UGO MONTE: Na orelha do livro eu afirmo que se trata de uma obra para iniciados e iniciantes, pra quem conhece a música, mas nunca prestou atenção na história ou vice-versa. Na minha visão o rock’n roll não é apenas um gênero musical, mas um fenômeno cultural sem precedentes, pois sua história se confunde com a própria história da juventude e o papel que as gerações subsequentes ao pós-guerra tiveram na dinâmica da mudança do mundo contemporâneo.
MANGO: O que torna esta obra inédita?
UGO MONTE: Nas biografias, os escritores procuram desvendar personalidades e mostrar o ambiente cultural e o cotidiano dos seus biografados, através de entrevistas, relatos de amigos e familiares, enfim, fontes “primárias” sobre a vida e obra de algum artista. Nunca tive essa pretensão, nem teria a possibilidade de fazê-lo, minha fonte de pesquisa eram obras que já haviam sido escritas, portanto não havia nada a ser “revelado” nesse sentido. Minha ideia foi tentar analisar o legado cultural do rock, a partir da compreensão do contexto histórico em que ele se desenvolveu. Trocando em miúdos, pra entender a gênese do rock nos anos 50, é preciso entender a segregação racial e o red scare na sociedade norte-americana; Pra entender o rock psicodélico, é preciso entender o movimento hippie, o ambiente estudantil anti-guerra, a luta pelos direitos civis...
MANGO: O que espera da repercussão deste livro?
UGO MONTE: Confesso que tenho grandes expectativas, mas não dá pra projetar nada em torno disso, pois não depende de mim. A minha ideia a princípio, é montar uma palestra sobre o tema e tentar encontrar espaços para divulgar esse trabalho.
AUTOR UGO MONTE |
UGO MONTE: Inúmeras. Como já produzi um CD autoral, nos mesmos moldes, sabia que teria as mesmas dificuldades. O custo é bastante alto e há uma enorme demanda de tempo para “dar vida” à obra, mas essa é a parte mais fácil, difícil mesmo é divulgar seu trabalho sem qualquer apoio, não estou falando em dinheiro, mas em conseguir exposição para qualquer produto cultural, seja um livro, um CD, uma peça...Mais uma vez será um desafio, espero ter mais espaço do que tive com o CD.
MANGO: Sabemos que você já compôs várias músicas de rock e que já gravou até um CD. Fala um pouco desta sua trajetória.
UGO MONTE: Acabei me antecipando a sua pergunta. Acho que o CD foi um trabalho mais difícil do que o livro, igualmente prazeroso, mas foi mais difícil, pois não sou músico. Sempre gostei de escrever, desde pequeno. Na minha adolescência em Brasília, vivi de perto a explosão do rock nacional, pois a cidade foi um dos berços desse movimento. O baterista do Legião Urbana morava na minha quadra e todo mundo daquela geração foi contaminado pela mesma febre. A heterogeneidade cultural de Brasília e a ausência de uma identidade regional acabou contribuindo para a adoção do rock pela juventude da cidade. Se em Natal ou no Rio, todo mundo tirava onda de surfista, em Brasília, todo adolescente queria montar sua banda de rock. Eu também montei a minha, ganhei uma guitarra Gianinni bem básica, mas minha praia sempre foi escrever e acabei cantando pra ter um lugar na banda.
O curioso é que compor melodias não é uma coisa simples e mesmo músicos experientes e virtuosos, às vezes, tem dificuldade para criar. Como minha “técnica” era limitada aos acordes decorados nas revistas de cifras, nunca achei que seria capaz de compor, no início dava uma opinião sobre a colocação de uma nota ou outra, mas minha função sempre foi escrever as letras. Diversas vezes (isso acontece até hoje) já dei letras para tentar fazer parcerias com amigos músicos, sem obter retorno. Diante da falta de disposição dos meus “parceiros musicais”, comecei a tentar fazer as melodias das minhas próprias letras e hoje já compus mais de cinqüenta canções, por pura persistência da vontade. Doze delas foram gravadas no CD O caminho das pedras produzido em 2006, espero ter a oportunidade de fazer outros trabalhos e registrar pelo menos parte desse material. Dessa primeira experiência, feita com músicos de estúdio, percebi a necessidade de ter uma banda fixa, onde haja espaço e tempo para desenvolver os arranjos, com mais cuidado. No ano passado fizemos duas apresentações, mas é muito difícil arregimentar músicos para um projeto autoral e ainda estou a procura de um grupo para um trabalho a longo prazo.
MANGO: E o projeto das palestras-show, como ocorreram? Pretende fazer novas palestras agora com o lançamento do livro?
UGO MONTE: Eu não o tenho em mãos nesse momento para fazer a citação, mas há algumas informações relevantes para potenciais interessados no meu trabalho. São 9 capítulos, compreendendo um período entre 1950 e 2012. Cada capítulo tem vários sub-tópicos e quatro “apêndices”:
1) Uma relação de músicas por ano, que eu chamei de Jukebox
2) Uma discografia essencial
3) Uma relação de filmes e documentários
4) Uma pequena narrativa dos principais fatos históricos de cada período analisado.
No fim ainda coloquei um pequeno glossário sobre o universo do rock e da cultura pop. A minha intenção foi produzir uma obra que seja lida como entretenimento, mas que também seja usada como fonte de consulta pelos interessados em música, cinema, história e cultura em geral.